quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Traição


















Eu que sempre
fui de escrever
de repente me
dá um apagão

Sentada em
minha cama
ouvindo a chuva
à cair com furor

Recordando os
últimos minutos
do teu interfone
tocando sem parar

Quando em seguida ouvi
uma buzina berrante
e nada mais estava
no mesmo lugar

Eu estava longe
impossibilitada
de bater tua porta
no entanto tu abrias

A tua porta para ela
apertasse o mudo
do telefone que
nos ligava

Nada estava
mais as claras
ninguém podia
mesmo me ouvir

Não importava
se eu gritasse
amor fala comigo
ela não me ouviria

No meu estômago
úlceras se abriam
dos meus olhos
lágrimas caiam`

Rolei pela cama
sem conseguir
fechar os olhos
numa angústia

Tal qual como aguardar
o resultado de uma cirurgia
sem chances de êxito
desesperança total.



Rafaela Cartaxo

sexta-feira, 17 de julho de 2015

Amorragia














Acordei de peito aberto
Banhada em sangue
Coração na mão
Amor partido



Meio morto meio vivo
Palavras angustiadas
Presas na mente
Não consegue libertar



Coração cansado de amar
Não sabe como amarelar
Um amor roxo a sufocar
Por tuas próprias mãos



Castigado serás por cativar
Alguém há de contemplar
Toda essa hemorragia
Externa e interna culpa tua



Cativeiro aprisionou
Minha alma encarcerada
Em você minha masmorra
Um amor um calabouço



E mesmo nesse medonho
Rodamoinho a me moer
Quando fecho os olhos
Encontro você e sorrio.



Rafaela Cartaxo



terça-feira, 14 de julho de 2015

Psicótico











Eu nunca senti na pele
Um amor tão dolorido assim
Machuca da pele aos ossos
Rasga tudo sem anestesia

A caixa torácica rompida
Por sua vez comprometida
De tantas batidas ansiosas
Por dentro taquicardia

Me dói a respiração
Me dói o coração
Me dói a alma
Me dói o ser

Abstinência de você
Droga humana és
Vício assassino e lento
Mata bem devagarinho

É tempestade em pleno sol
É vendaval de emoções
É loucura sã que insana
Todo o meu bom senso

Posso desistir de tu
Posso desistir da dor
Parece um tanto louco
Dizer que eu não quero

Mesmo assim eu repito
Seguidas vezes que te quero
Você misturou-se em mim
Circula nas veias junto ao sangue

E quando some dos meus olhos
Essa circulação é interrompida
Vasos obstruídos a alma necrosa
Que inquieta não dorme

Assistindo a morte
Que é a falta de você
É heroína é overdose
É minha vida minha morte

Se o amor é mesmo isso
Meu diagnóstico é claro
Me levem ao sanatório
Usem os velhos métodos

Quem sabe esse amor louco
Não resista a trato de choque
Antes vazia em paz do que
Cheia do teu amor terrorista.

Rafaela Cartaxo

domingo, 17 de maio de 2015

Ser teu prazer
















Já não creio
que seja poeta
nem certeza tenho
se o que escrevo presta

Mas se poeta for
e algo do que eu diga
mexa com tua fisiologia
se puder te alegrar

Já seria feliz hoje
se presenteada fosse
por teus belos sorrisos
que junto a tua língua quente

Me invadiria a boca
fazendo-me delirar
nas sacanagens
dos teus beijos

Que consomem
meu corpo em desejo
quando enlouqueço
meus lábios tu sentas

Língua quente penetrada
extrai desvairada
o gozo guardado
para as tuas orgias.

Rafaela Cartaxo

Queda livre

A vida é feita por etapas 
como se faz numa escalada 
saber subir sem muito esfarrapar 
é o grande segredo

Talvez o topo nunca chegue 
porque na verdade 
o topo é cada etapa escalada 
cada uma por sua vez

Um dia os sentimentos morrem 
assim como morrem as flores 
todos os dias e santo todo dia é 
esperar 365 deles pra envelhecer

Por mais um ano após outro
só pra achar que sabemos mais 
do que soubemos no ano passado 
e que até parecemos esquecer 

Tudo que aprendemos 
pela vida inteira numas vezes 
esquecemos por querer outras por 
talvez ter sido melhor esquecer

Desafiar-se é o ponto de partida
as vezes dói olhar na linha do tempo 
da vida de quem um dia não só fez parte 
como também foi a nossa vida

E ver que não sobrou nada para nós
mas a vida é assim mesmo 
é um cruza descruza 
de caminhos embaralhados

Ninguém nasceu junto 
ninguém desempenha igual 
nem tem a mesma desenvoltura 
quando se tem um cabo 

de segurança preso a cintura 
portanto evite as dores
evite também os desamores 
evite sentir-se esquecido

Guarde só as boas lembranças 
para que se um dia 
nessa tal escalada de novo 
nós se bater com quem se foi 

A gente rir de saudade e alegria
nada dos ressentimentos 
de dores desnecessárias 
Viva sem medo de cair 

No final das contas 
sempre existiu 
o velho cabo 
de segurança. 


Rafaela Cartaxo

Emblema
















Houve tempos que
a tua face era a única
da qual eu desejava
não parar de ver

Me fazia sonhar
sem sentir dor
o que quase ninguém sabe
é que o pesadelo

Algum dia já foi sonho
e fez muita gente feliz
porque dentro de tudo
vivem fantasmas

E eles tentam assustar
nos faz sentir medo
e o medo é arma letal
que destrói sonhos

Hoje quando apareces
tenho medo de te olhar
olhar em teus olhos
tua face ainda é bela

Porém teu olhar
é de medusa
e me congela
me aprisiona ao teu chão

Não vou mais 
encarar você
pra correr o risco
de novo me perder

Preciso seguir
pra algum lugar
onde teus olhos
não me alcancem

Aproveitar que
ainda posso partir
que ainda não sou
monumento em teu jardim.


Rafaela Cartaxo




Mata e cura













Será que tu sabes
sabes mesmo
o que é amor
ou como amar

Não sei ou será
talvez tu descubra
quando tudo desabar
me sinto a soterrar

Como será que
o teu coração sente
se quente ou friamente
porque francamente

Não entendo
como tu dizes
que pode me amar
será ou não

Será que há amor
um amor para mim
dentro de teu coração
pergunto a tua omissão

Porque nada de ti
está as claras
O que mais esconde
fale enquanto pode

Fale agora mesmo
ou cale-se para sempre
Será ou seria muito bom
Se teu amor me tocasse

Mas eu não tenho
sentido quase nada
nos últimos tempos
tudo graças a você

Que roubou meu coração
mesmo sem saber amar
pôs dentro de tua caixa
sem amor à necrosar

Por não ter me dito
que dentro de ti
havia uma pandora
entre todos os dons

Tu se resume
a morte e a cura
e brincas comigo
de morte e ressurreição

Enquanto eu
todos os dias
morro ou vivo
assim tu queiras

Me amar ou será
que hoje será
só mais um
desses dias

Que tu me enterra
me esquece sem ar
ou será que hoje
é o dia da cura.

Rafaela Cartaxo

segunda-feira, 27 de abril de 2015

Negra flor












O teu amor chegou
como rosas de toda cor
colorindo a primavera
da estação e do meu coração

Desde que abracei tu
suas pétalas sedosas
e os teus galhos frondosos
me prenderam a ti

Não a força ou 
por cordas e correntes
foi pelo cheiro que exalava
que de amor desabrochei

Tuas flores belas
tinham alguns espinhos
se arrancados te feririam
por isso o meu amor

Preferiu se ferir 
em teus espinhos
até que conhecendo-os
não mais se feriu

Minha rosa bela portanto
foi polpada de mutilações
os dias foram passando
os furos cicatrizando

Vimos que o tempo
tudo leva se esperarmos
que um dia não é uma semana
nem uma semana é um ano

Que tudo tem seu período
para colheita se houver plantio
então joguei muita semente
não há de faltar amor pra gente

Quatorze meses
se passaram Negra-flor
e eu do plantio a colheita
conquistei o teu amor

Mais uma vez deu-me
as provas de que tudo leva tempo
mas que nem tudo o tempo leva
pois não levou a primavera

Que se tornou minha vida
com a tua chegada
trazendo novo significado
também me fez florescer

Com amor e cautela
para não ferir nós dois
mesmo as criações mais belas
possuem seus esporões

Que com amor e tempo
o destino se encarrega
de nos ensinar a tocar
as flores mais belas 

Sem necessitar
de nenhum ferimento
sem que por dentro
o coração precise sangrar

Nosso tempo chegou
estou colhendo amor
quatorze meses 
não são catorze dias.

Rafaela Cartaxo
Ama você.
Dedicado: À Negra Flor







sábado, 11 de abril de 2015

Seu Par














Nos teus beijos
eu encontrei ternura
um afago doce
que eu nunca senti

Tu é a melhor
desilusão que tive
dormir em teus braços
é utopia agridoce

Raridade foi amanhecer
junto a tudo e a ti
tu que sempre escolhias
teu ar e tua cama fria

Como acreditar
que em teu monólogo
tem espaço pra mais um
se estou a sucumbir

É em vão querer tudo
quando a outra metade
nunca quis deixar
de ser apenas meio

O amor só pode ser par
porque anjos pra voar
precisam ter um par
de asas não apenas uma

Um bote no mar
precisa de dois remos
porque com um remo só
tudo fica a deriva

Sendo assim eu sem você
sou um fenômeno a tua procura
só posso ser sol ou lua
quando eclipse tu quiser ser


Rafaela Cartaxo