O sono do cansaço conspira
sobre as minhas pálpebras
avalanche que cai e pesa
vem tapar os meus olhinhos
Sem balanço estático descansa
sempre na paz dos perturbados
faz breve seu repouso involuntário
Da lavoura
da senzala
do cansaço
das horas
Em perpétuo muito trabalho
predestinados a comer racionado
homens, mulheres e crianças
Inchada nas mãos cedo trabalham
Passando o dia engaiolados
longe dessa nova civilização
não é dúbio o nosso protesto
queremos ser a bons modos
Tratados como seres racionais
mas nos forçam viver no cabresto
Em paradoxo
com as leis
que na cruel
vida real
Não favorece nenhum de nós
a não ser os patetas do poder
que porventura pensam
dever haver transferência de posses
quando suas botas bater
aí se darão conta que
acumularam tesouros errados
E verão então refletidas
imagens doloridas
do vazio de suas almas
ressecadas por falta de amor
Pedirão então a Lázaro
para molhar nem que seja
a pontinha dos seu minúsculos
órgãos fétidos leprosos
Em suas línguas a saliva imunda
que matou muita gente de fome
com suas falas traiçoeiras
faltando solidariedade a seus irmãos
Rafaela Cartaxo