domingo, 17 de maio de 2015

Ser teu prazer
















Já não creio
que seja poeta
nem certeza tenho
se o que escrevo presta

Mas se poeta for
e algo do que eu diga
mexa com tua fisiologia
se puder te alegrar

Já seria feliz hoje
se presenteada fosse
por teus belos sorrisos
que junto a tua língua quente

Me invadiria a boca
fazendo-me delirar
nas sacanagens
dos teus beijos

Que consomem
meu corpo em desejo
quando enlouqueço
meus lábios tu sentas

Língua quente penetrada
extrai desvairada
o gozo guardado
para as tuas orgias.

Rafaela Cartaxo

Queda livre

A vida é feita por etapas 
como se faz numa escalada 
saber subir sem muito esfarrapar 
é o grande segredo

Talvez o topo nunca chegue 
porque na verdade 
o topo é cada etapa escalada 
cada uma por sua vez

Um dia os sentimentos morrem 
assim como morrem as flores 
todos os dias e santo todo dia é 
esperar 365 deles pra envelhecer

Por mais um ano após outro
só pra achar que sabemos mais 
do que soubemos no ano passado 
e que até parecemos esquecer 

Tudo que aprendemos 
pela vida inteira numas vezes 
esquecemos por querer outras por 
talvez ter sido melhor esquecer

Desafiar-se é o ponto de partida
as vezes dói olhar na linha do tempo 
da vida de quem um dia não só fez parte 
como também foi a nossa vida

E ver que não sobrou nada para nós
mas a vida é assim mesmo 
é um cruza descruza 
de caminhos embaralhados

Ninguém nasceu junto 
ninguém desempenha igual 
nem tem a mesma desenvoltura 
quando se tem um cabo 

de segurança preso a cintura 
portanto evite as dores
evite também os desamores 
evite sentir-se esquecido

Guarde só as boas lembranças 
para que se um dia 
nessa tal escalada de novo 
nós se bater com quem se foi 

A gente rir de saudade e alegria
nada dos ressentimentos 
de dores desnecessárias 
Viva sem medo de cair 

No final das contas 
sempre existiu 
o velho cabo 
de segurança. 


Rafaela Cartaxo

Emblema
















Houve tempos que
a tua face era a única
da qual eu desejava
não parar de ver

Me fazia sonhar
sem sentir dor
o que quase ninguém sabe
é que o pesadelo

Algum dia já foi sonho
e fez muita gente feliz
porque dentro de tudo
vivem fantasmas

E eles tentam assustar
nos faz sentir medo
e o medo é arma letal
que destrói sonhos

Hoje quando apareces
tenho medo de te olhar
olhar em teus olhos
tua face ainda é bela

Porém teu olhar
é de medusa
e me congela
me aprisiona ao teu chão

Não vou mais 
encarar você
pra correr o risco
de novo me perder

Preciso seguir
pra algum lugar
onde teus olhos
não me alcancem

Aproveitar que
ainda posso partir
que ainda não sou
monumento em teu jardim.


Rafaela Cartaxo




Mata e cura













Será que tu sabes
sabes mesmo
o que é amor
ou como amar

Não sei ou será
talvez tu descubra
quando tudo desabar
me sinto a soterrar

Como será que
o teu coração sente
se quente ou friamente
porque francamente

Não entendo
como tu dizes
que pode me amar
será ou não

Será que há amor
um amor para mim
dentro de teu coração
pergunto a tua omissão

Porque nada de ti
está as claras
O que mais esconde
fale enquanto pode

Fale agora mesmo
ou cale-se para sempre
Será ou seria muito bom
Se teu amor me tocasse

Mas eu não tenho
sentido quase nada
nos últimos tempos
tudo graças a você

Que roubou meu coração
mesmo sem saber amar
pôs dentro de tua caixa
sem amor à necrosar

Por não ter me dito
que dentro de ti
havia uma pandora
entre todos os dons

Tu se resume
a morte e a cura
e brincas comigo
de morte e ressurreição

Enquanto eu
todos os dias
morro ou vivo
assim tu queiras

Me amar ou será
que hoje será
só mais um
desses dias

Que tu me enterra
me esquece sem ar
ou será que hoje
é o dia da cura.

Rafaela Cartaxo